Quanto nós merecemos

Um psicanalista me disse um dia:– Minha profissão ajuda as pessoas a manter a cabeça à tona d’água. Milagres ninguém faz.Nessa tona das águas da vida, por cima da qual nossa cabeça espia – se não naufragamos de vez –, somos assediados por pensamentos nem sempre muito inteligentes ou positivos sobre nós mesmos.
As armadilhas do inconsciente, que é onde nosso pé derrapa, talvez nos façam vislumbrar nessa fenda obscura um letreiro que diz: “Eu não mereço ser feliz. Quem sou eu para estar bem, ter saúde, ter alguma segurança e alegria? Não mereço uma boa família, afetos razoavelmente seguros, felicidade em meio aos dissabores”. Nada disso. Não nos ensinaram que “Deus faz sofrer a quem ama”?
Portanto, se algo começa a ir muito bem, possivelmente daremos um jeito de que desmorone – a não ser que tenhamos aprendido a nos valorizar.
Vivemos o efeito de muita raiva acumulada, muito mal-entendido nunca explicado, mágoas infantis, obrigações excessivas e imaginárias. Somos ofuscados pelo danoso mito da mãe santa e da esposa imaculada e do homem poderoso, pela miragem dos filhos mais que perfeitos, do patrão infalível e do governo sempre confiável.

Sofremos sob o peso de quanto “devemos” a todas essas entidades inventadas, pois, afinal, por trás delas existe apenas gente, tão frágil quanto nós.Esses fantasmas nos questionam, mãos na cintura, sobrancelhas iradas:– Ué, você está quase se livrando das drogas, está quase conquistando a pessoa amada, está quase equilibrando sua relação com a família, está quase obtendo sucesso, vive com alguma tranqüilidade financeira… será que você merece? Veja lá!
Ouvindo isso, assustados réus, num ato nada falho tiramos o tapete de nós mesmos e damos um jeito de nos boicotar – coisa que aliás fazemos demais nesta curta vida. Escolhemos a droga em lugar da lucidez e da saúde; nos fechamos para os afetos em lugar de lhes abrir espaço; corremos atarantados em busca de mais dinheiro do que precisaríamos; se vamos bem em uma atividade, ficamos inquietos e queremos trocar; se uma relação floresce, viramos críticos mordazes ou traímos o outro, dando um jeito de podar carinho, confiança ou sensualidade.
Se a gente pudesse mudar um pouco essa perspectiva, e não encarar drogas, bebida em excesso, mentira, egoísmo e isolamento como “proibidos”, mas como uma opção burra e destrutiva, quem sabe poderíamos escolher coisas que nos favorecessem. E não passar uma vida inteira afastando o que poderia nos dar alegria, prazer, conforto ou serenidade.
No conflitado e obscuro território do inconsciente, que o velho sábio Freud nos ensinaria a arejar e iluminar, ainda nos consideramos maus meninos e meninas, crianças malcomportadas que merecem castigo, privação, desperdício de vida. Bom, isso também somos nós: estranho animal que nasceu precisando urgente de conserto.Alguém sabe o endereço de uma oficina boa, barata, perto de casa – ah, e que não lide com notas frias?
Lya Luft

Nenhum comentário:

Seguidores


"Viver de verdade é o imperativo da mulher sábia"

Livros Eternos

  • Crime e Castigo- Fiódor Dostoiésvsky
  • Guerra e Paz, Lev Tolstoi, 1869
  • Ilíada e Odisséia, Homero, século VIII a.c.
  • Lolita, Vladimir Nabokov, 1955
  • O Apanhador no Campo de Centeio, J. D. Salinger, 1951
  • Orgulho e Preconceito, Jane Austen, 1813
  • Risíveis Amores- MIlan Kundera

Antroposofia

Antroposofia
Lemniscata

Florais

Florais
...a essência floral foi elaborada...

Ervas que te quero bem.

Ervas que te quero bem.
A relação das ervas com o homem vem de milênios. Os indianos já as usavam nas curas da medicina aiurvédica há mais de 5 mil anos. Alecrim, manjericão, capim-limão, camomila, hortelã, quebra -pedra, boldo, são algumas das inúmeras ervas importantes à nossa vida. Aromáticas, perfeitas ao paladar, importante para a saúde e a beleza, elas estão aí. É só aproveitar.Mais informações ckick na folhina do hortelã..